Ficus carica L. / Figueira-Comum, conhecida popularmente como figueira-comum, figueira ou figo, é uma espécie de árvore caducifólia da família Moraceae. Originária da região do Mediterrâneo e Ásia Ocidental, esta planta tem sido cultivada pelo homem desde a Idade da Pedra. A figueira é valorizada pelos seus frutos comestíveis e pelas suas reconhecidas propriedades terapêuticas, sendo utilizada na medicina tradicional para diversas finalidades.
Nomes Populares e Internacionais da Figueira-Comum
- Português: figueira-comum, figueira, figo, baforeira, figueira-brava (PT); figueira, figo (BR).
- Espanhol: higuera, higo, higuera común.
- Inglês: common fig, fig tree.
- Francês: figuier commun, figue.
- Inglês: common fig, fig tree.
- Italiano: fico comune, fico.
- Alemão: Echte Feige, Feigenbaum.
Sinónimos Botânicos da Figueira-Comum
Embora Ficus carica L. seja o nome científico mais amplamente aceite, a espécie possui alguns sinónimos botânicos. Estes incluem Ficus communis J.F.Gmel. e Ficus hyrcana Grossh. A variação taxonómica reflete a longa história de cultivo e a ampla distribuição geográfica da figueira. A compreensão dos sinónimos é crucial para a pesquisa científica e a identificação precisa da planta em diferentes contextos botânicos e etnobotânicos.
Família Botânica: Moraceae

Ilustração botânica de Ficus carica L. (figueira-comum, figueira, figo), árvore caducifólia da família Moraceae, cultivada desde a Idade da Pedra, nativa do Mediterrâneo e Ásia Ocidental, mostrando planta completa com folhas grandes e lobadas, frutos verdes e roxos em diferentes estágios de maturação, e tronco tortuoso, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.
A Ficus carica pertence à família Moraceae, que engloba cerca de 40 géneros e mais de 1.000 espécies de árvores, arbustos e ervas. Esta família é conhecida por incluir plantas com látex leitoso e frutos característicos, como o figo e a amora. As Moraceae são distribuídas principalmente em regiões tropicais e subtropicais, com algumas espécies adaptadas a climas temperados. A família é economicamente importante, fornecendo alimentos, madeira e fibras, além de possuir diversas espécies com usos medicinais tradicionais.
Partes Utilizadas para Chás e Preparações da Figueira-Comum
- Casca
- Folhas
- Frutos (frescos e secos)
- Látex
- Raízes
Usos Etnobotânicos e Tradicionais da Figueira-Comum
A figueira-comum tem uma história rica de uso na medicina tradicional em diversas culturas. Os frutos, folhas e raízes são empregados para tratar uma vasta gama de doenças. Na medicina Unani, por exemplo, é utilizada como laxante suave, expectorante e diurético. Também é aplicada no tratamento de doenças do fígado e baço, atuando como desobstruente e agente anti-inflamatório. Os figos são tradicionalmente usados para hemorroidas, picadas de insetos, gota, úlceras e infecções cutâneas.
Em algumas tradições, o suco do fruto misturado com mel é usado para hemorragias. Na Índia, os frutos são considerados um laxante suave, expectorante e diurético. A pasta de figo é aplicada em inchaços, tumores e inflamações para aliviar a dor. As folhas são utilizadas como antidiabético e vermífugo. O látex é empregado como expectorante, diurético e anti-helmíntico. As raízes são usadas como tónico no tratamento de leucoderma e infecções por micose. Estes usos etnobotânicos destacam a versatilidade e a importância cultural da Ficus carica ao longo da história.
Propriedades Medicinais da Figueira-Comum
- Analgésico (alivia a dor)
- Anti-angiogénico (inibe a formação de novos vasos sanguíneos)
- Antibacteriano (combate bactérias)
- Anticancerígeno (previne o câncer)
- Anticonstipação (alivia a prisão de ventre)
- Antidiabético (ajuda a controlar o açúcar no sangue)
- Antidiarreico (combate a diarreia)
- Anti-helmíntico (elimina vermes)
- Anti-inflamatório (reduz inflamações)
- Antimicótico (combate fungos)
- Antimutagénico (previne mutações genéticas)
- Antioxidante (combate radicais livres)
- Antiparasitário (combate parasitas)
- Antipirético (reduz a febre)
- Antiespasmódico (alivia espasmos)
- Antituberculose (combate a tuberculose)
- Antiviral (combate vírus)
- Cardioprotetor (protege o coração)
- Diurético (aumenta a produção de urina)
- Expectorante (facilita a eliminação de muco)
- Hepatoprotetor (protege o fígado)
- Hipocolesterolêmico (reduz o colesterol)
- Hipoglicemiante (reduz o açúcar no sangue)
- Laxante (promove a evacuação intestinal)
Fitoquímicos: Perfil Fitoquímico Detalhado da Figueira-Comum
A Ficus carica é rica em uma vasta gama de compostos bioativos que contribuem para as suas propriedades medicinais. Estudos fitoquímicos revelaram a presença de fenólicos, ácidos orgânicos e compostos voláteis nas folhas e frutos. Mais de 100 compostos bioativos foram identificados, incluindo beta-amirinas, beta-carotenos, beta-sitosteróis, arabinose e xantotoxol. Os triterpenoides são proeminentes, extraídos das raízes, folhas e látex da planta.
Os figos são uma fonte importante de compostos fenólicos, que desempenham um papel fisiológico significativo nas plantas. Estes compostos contribuem para a saúde humana através da sua atividade antioxidante, atuando como agentes redutores, doadores de hidrogénio e eliminadores de radicais livres. Os frutos do figo exibem uma elevada capacidade antioxidante devido à sua rica quantidade de polifenóis, flavonoides e antocianinas. A presença desses fitoquímicos confere à Ficus carica um notável potencial terapêutico.
Preparações: Formas de Preparo (Chás, Tinturas, Extratos) da Figueira-Comum
- Cataplasma
- Decocção
- Extrato fluido
- Extrato seco
- Infusão
- Látex
- Tintura
Sinergia: Combinações Sugeridas com Outras Plantas
Controlo Glicémico
Para o controlo do açúcar no sangue, a Ficus carica pode ser utilizada em conjunto com plantas como a canela (Cinnamomum verum) ou o feno-grego (Trigonella foenum-graecum). As folhas da figueira demonstraram propriedades hipoglicemiantes, que podem ser complementadas pelos efeitos da canela na sensibilidade à insulina e do feno-grego na redução da absorção de glicose. Esta sinergia pode oferecer um suporte natural para indivíduos com distúrbios metabólicos, sempre sob orientação profissional.
Problemas Digestivos
A figueira-comum pode ser combinada com outras plantas para potenciar os seus efeitos digestivos. Por exemplo, a associação com hortelã-pimenta (Mentha × piperita) e erva-cidreira (Melissa officinalis) pode ser benéfica para aliviar dispepsia, flatulência e cólicas intestinais. Os compostos da figueira, como as fibras e enzimas, atuam sinergicamente com os óleos essenciais destas plantas, promovendo um melhor funcionamento do trato gastrointestinal e reduzindo o desconforto.
Saúde Cardiovascular
A combinação da figueira-comum com plantas como o alho (Allium sativum) ou o espinheiro-alvar (Crataegus monogyna) pode ser explorada para a saúde cardiovascular. Os figos são conhecidos por ajudar a manter os níveis de colesterol e fortalecer o coração. O alho contribui com propriedades que apoiam a circulação e a pressão arterial, enquanto o espinheiro-alvar é tradicionalmente usado para fortalecer a função cardíaca. Juntos, podem oferecer um suporte abrangente para o sistema cardiovascular.
Modo de Uso: Receitas e Protocolos de Uso da Figueira-Comum
Cataplasma para Inflamações Cutâneas
Ingredientes: Folhas frescas de figueira-comum, água quente.
Preparação: Amassar algumas folhas frescas de figueira-comum até formar uma pasta. Aquecer ligeiramente a pasta em água quente (não ferver). Aplicar diretamente sobre a área afetada da pele, como inchaços, furúnculos ou pequenas feridas. Cobrir com um pano limpo e deixar atuar por 30 minutos a 1 hora. Repetir 2-3 vezes ao dia. Este cataplasma ajuda a reduzir a inflamação e a promover a cicatrização devido às propriedades anti-inflamatórias e antissépticas da planta.
Decocção de Folhas para Controlo Glicémico
Ingredientes: 2-3 folhas secas de figueira-comum, 500 ml de água.
Preparação: Lavar bem as folhas e colocá-las numa panela com a água. Levar ao lume e deixar ferver por 10-15 minutos. Retirar do lume, coar e deixar arrefecer. Consumir 1 chávena (200 ml) duas vezes ao dia, antes das refeições principais. Esta decocção é tradicionalmente utilizada para ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue, mas deve ser usada com cautela e sob supervisão médica, especialmente por diabéticos.
Infusão de Frutos Secos para Laxante Suave
Ingredientes: 2-3 figos secos, 250 ml de água fervente.
Preparação: Cortar os figos secos em pedaços pequenos. Colocá-los numa chávena e adicionar a água fervente. Tapar e deixar em infusão por 10-15 minutos. Coar e beber a infusão, preferencialmente à noite, antes de deitar. Os figos secos são ricos em fibras e atuam como um laxante suave, auxiliando no alívio da prisão de ventre e promovendo a saúde intestinal. Pode-se consumir os figos amolecidos após a infusão.
Tintura de Folhas para Problemas Respiratórios
Ingredientes: 50 g de folhas secas de figueira-comum, 250 ml de álcool de cereais a 70%.
Preparação: Picar finamente as folhas secas e colocá-las num frasco de vidro escuro. Cobrir com o álcool de cereais, garantindo que as folhas estejam completamente submersas. Fechar bem o frasco e deixar macerar por 2-4 semanas em local fresco e escuro, agitando diariamente. Coar a tintura e armazenar num frasco escuro. Tomar 20-30 gotas diluídas em água, 2-3 vezes ao dia, para auxiliar no tratamento de problemas respiratórios como tosse e bronquite, devido às suas propriedades expectorantes e anti-inflamatórias.
Terapias Associadas à Figueira-Comum
Fitoterapia Clínica
Na fitoterapia clínica moderna, a Ficus carica é valorizada pelos seus extratos padronizados, utilizados em diversas formulações. As folhas, em particular, são objeto de estudo devido às suas propriedades antidiabéticas e antioxidantes. Extratos de figueira-comum são empregados como coadjuvantes no tratamento de distúrbios metabólicos, inflamações e problemas gastrointestinais. A dosagem e a forma de administração são cuidadosamente ajustadas por profissionais de saúde, considerando a composição fitoquímica e as necessidades individuais do paciente, garantindo a segurança e eficácia do tratamento.
Homeopatia
Embora não seja um remédio homeopático tão comum quanto outras plantas, a Ficus carica pode ser utilizada em homeopatia para condições específicas. A preparação homeopática da figueira-comum é feita a partir de suas partes frescas, seguindo os princípios de diluição e dinamização. Pode ser indicada para distúrbios digestivos, problemas de pele ou condições inflamatórias, dependendo da totalidade dos sintomas do paciente. A escolha e a potência do remédio são determinadas por um homeopata qualificado, que avalia o quadro clínico de forma individualizada.
Contraindicações e Efeitos Colaterais da Figueira-Comum
Contraindicações Gerais
A Ficus carica é geralmente considerada segura quando consumida como alimento. Contudo, o látex da figueira pode causar reações alérgicas em indivíduos sensíveis, manifestando-se como dermatite de contacto ou irritação cutânea. Pessoas com alergia conhecida a outras plantas da família Moraceae devem ter cautela. Mulheres grávidas ou a amamentar devem consultar um profissional de saúde antes de usar preparações medicinais da figueira-comum, devido à falta de estudos conclusivos sobre a sua segurança nestes grupos. Indivíduos com distúrbios hemorrágicos ou que tomam anticoagulantes devem usar com precaução, pois algumas cumarinas podem potenciar os efeitos anticoagulantes.
Efeitos Colaterais Comuns
Os efeitos colaterais da figueira-comum são raros e geralmente leves. O consumo excessivo de figos pode causar diarreia devido ao seu alto teor de fibras. A aplicação tópica do látex pode provocar irritação na pele em pessoas sensíveis. Em alguns casos, o consumo de folhas ou extratos pode levar a distúrbios gastrointestinais leves, como náuseas ou desconforto abdominal. É sempre aconselhável iniciar com doses baixas e observar a reação individual. Em caso de reações adversas, o uso deve ser descontinuado e um médico consultado.
Interações Medicamentosas
A Ficus carica pode interagir com certos medicamentos. Devido às suas propriedades hipoglicemiantes, pode potenciar o efeito de medicamentos para diabetes, exigindo monitorização cuidadosa dos níveis de glicose para evitar hipoglicemia. As cumarinas presentes na planta podem aumentar o risco de hemorragia em pacientes que tomam anticoagulantes, como a varfarina. Além disso, as propriedades diuréticas da figueira podem influenciar a ação de diuréticos farmacológicos. É fundamental informar o médico sobre o uso de qualquer suplemento ou planta medicinal para evitar interações indesejadas.
Curiosidades e Fatos Históricos sobre a Figueira-Comum
A figueira-comum é uma das plantas mais antigas cultivadas pela humanidade, com evidências arqueológicas que datam de mais de 11.000 anos, anteriores ao cultivo de cereais. É mencionada em textos religiosos e mitológicos de diversas culturas, simbolizando fertilidade, abundância e conhecimento. Na Bíblia, a figueira é a primeira planta descrita, com Adão e Eva usando as suas folhas para se cobrirem. Na Roma Antiga, era considerada uma árvore sagrada, associada à loba que amamentou Rómulo e Remo.
Os figos eram um alimento básico para muitas civilizações antigas, valorizados pelo seu valor nutricional e pela capacidade de serem secos e armazenados. A sua complexa polinização, que envolve a vespa-do-figo (Blastophaga psenes), é um exemplo fascinante de coevolução entre planta e inseto. As figueiras também são notáveis pela sua longevidade, com algumas árvores vivendo por centenas de anos. A sua adaptabilidade a diferentes climas e solos contribuiu para a sua disseminação global e para a sua importância contínua na alimentação e medicina.
Perguntas Frequentes sobre o Chá de Figueira-Comum
O Chá de Figueira-Comum é Seguro Para Todos?
O chá de figueira-comum é geralmente seguro para a maioria das pessoas quando consumido com moderação. Contudo, indivíduos com alergia a plantas da família Moraceae, mulheres grávidas ou a amamentar, e pessoas que tomam medicamentos para diabetes ou anticoagulantes devem consultar um profissional de saúde antes de consumir o chá. O látex da planta pode causar irritação em algumas pessoas, e o consumo excessivo pode levar a distúrbios gastrointestinais leves.
Quais São os Principais Benefícios do Chá de Figueira-Comum?
O chá de figueira-comum é valorizado pelas suas propriedades laxantes, anti-inflamatórias, antioxidantes e hipoglicemiantes. Pode auxiliar na digestão, aliviar a prisão de ventre, reduzir inflamações, combater radicais livres e ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue. É também tradicionalmente usado para problemas respiratórios, como tosse e bronquite, e para promover a saúde cardiovascular. Os seus benefícios derivam da rica composição fitoquímica da planta.
Como Preparar o Chá de Folhas de Figueira-Comum?
Para preparar o chá de folhas de figueira-comum, utilize 2-3 folhas secas para 500 ml de água. Lave bem as folhas e coloque-as numa panela com a água. Leve ao lume e deixe ferver por 10-15 minutos. Retire do lume, coe e deixe arrefecer. Recomenda-se consumir 1 chávena (200 ml) duas vezes ao dia, antes das refeições principais. É importante não exceder a dose recomendada e observar a reação do corpo ao chá.
O Chá de Figueira-Comum Ajuda na Perda de Peso?
Embora o chá de figueira-comum possa auxiliar na digestão e no controlo do açúcar no sangue, não existem evidências científicas robustas que comprovem a sua eficácia direta na perda de peso. As fibras presentes nos figos podem promover a saciedade, e as propriedades metabólicas da planta podem contribuir indiretamente para um estilo de vida saudável. Contudo, a perda de peso eficaz e sustentável requer uma combinação de dieta equilibrada, exercício físico regular e, se necessário, acompanhamento profissional.
Pode-se Usar Figos Frescos Para Fazer Chá?
Sim, é possível usar figos frescos para fazer chá, embora os figos secos sejam mais comuns para infusões laxantes. Para um chá de figos frescos, pode-se cortar 2-3 figos em pedaços e infundi-los em água fervente por cerca de 10-15 minutos. O chá de figos frescos pode ser mais suave em sabor e ainda oferecer alguns dos benefícios nutricionais e digestivos da fruta. No entanto, para propriedades medicinais mais concentradas, as folhas ou extratos são geralmente preferidos.
Referências e Estudos Científicos
- Mawa, S., Husain, K., & Jantan, I. (2013). Ficus carica L. (Moraceae): Phytochemistry, Traditional Uses and Biological Activities. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2013, 974256.
- Badgujar, S. B., Patel, V. V., Bandivdekar, A. H., & Mahajan, R. T. (2014). Traditional uses, phytochemistry and pharmacology of Ficus carica: A review. Pharmaceutical Biology, 52(11), 1487-1503.
- Hajam, T. A., & Saleem, H. (2022). Phytochemistry, biological activities, industrial and traditional uses of fig (Ficus carica): A review. Chemico-Biological Interactions, 368, 110237.
- Li, Z., et al. (2021). A comprehensive review on phytochemistry, bioactivities and traditional uses of Ficus carica Linn. leaves. Journal of Ethnopharmacology, 271, 113881.
- Fazel, M. F., et al. (2024). Ficus Carica – A Promising Nutraceutical. Drug Design, Development and Therapy, 18, 117-130.