Haematoxylum campechianum L. / Pau-Campeche, também conhecido como pau-de-tinta ou campeche logwood em inglês, é uma árvore de pequeno a médio porte pertencente à família Fabaceae. Originária do sul do México, esta espécie disseminou-se por diversas regiões tropicais, incluindo o Caribe e a América Central, onde se naturalizou.
Historicamente, o pau-campeche desempenhou um papel crucial na economia global, sendo a principal fonte de corante para tecidos do século XVII ao XIX. Além de seu valor tintorial, a planta possui uma rica história de uso na medicina tradicional, com propriedades terapêuticas reconhecidas e estudadas. A sua madeira é densa e escura, característica que lhe confere o nome popular de “pau-de-sangue” devido à coloração avermelhada de seu cerne.
Nomes Populares e Internacionais do Pau-Campeche
- Português: campeche, pau-campeche, pau-de-campeche, pau-de-sangue, pau-de-tinta.
- Espanhol: campeche, palo de campeche, palo de tinte.
- Inglês: blackwood, bloodwood tree, bluewood, campeachy tree, campeachy wood, campeche logwood, campeche wood, Jamaica wood, logwood.
- Francês: bois de campêche, campêche, hématoxyle campêche.
- Italiano: campeggio, legno campeggio.
- Alemão: Blauholzbaum, Campecheholz.
Sinónimos Botânicos do Pau-Campeche
O nome científico Haematoxylum campechianum L. é amplamente aceito, contudo, a literatura botânica registra alguns sinónimos. Um dos mais notáveis é Cymbosepalum baronii Baker, que reflete variações taxonómicas ou reclassificações históricas. A compreensão desses sinónimos é fundamental para a pesquisa e identificação precisa da espécie em diferentes contextos científicos e históricos.
Família Botânica: Fabaceae

Ilustração botânica de Haematoxylum campechianum L. (pau-campeche, pau-de-tinta, logwood), árvore de pequeno a médio porte da família Fabaceae, nativa do sul do México, mostrando planta completa com folhas alternadas, flores amareladas e frutos em vagem, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.
O pau-campeche pertence à vasta família Fabaceae, também conhecida como Leguminosae, uma das maiores famílias de plantas com flores. Esta família é caracterizada pela presença de frutos em vagem e pela capacidade de muitas de suas espécies de fixar nitrogénio no solo, enriquecendo-o.
Dentro da Fabaceae, o Haematoxylum campechianum está classificado na subfamília Caesalpinioideae e na tribo Caesalpinieae. Esta classificação destaca suas relações evolutivas com outras plantas economicamente importantes, como o feijão e a ervilha, e com diversas espécies ornamentais e medicinais.
Partes Utilizadas do Pau-Campeche
- Casca
- Cerne (madeira)
- Flores
- Folhas
Usos Etnobotânicos e Tradicionais do Pau-Campeche
- Adstringente e tónico.
- Alívio de cólicas intestinais.
- Amenorreia e anemias (decocção de caules e/ou folhas).
- Corante para tecidos e papel.
- Diarreia e disenteria.
- Dismenorreia.
- Dores de cabeça.
- Febre.
- Feridas e úlceras de pele (como desinfetante adstringente).
- Infecções.
- Leucorreia (em forma de irrigações vaginais).
- Problemas de estômago.
- Purificação do sangue.
- Resfriados.
- Reumatismo.
- Úlceras cancerosas e gangrenosas (aplicação tópica).
Propriedades Terapêuticas do Pau-Campeche
- Adstringente (contrai tecidos e vasos sanguíneos)
- Analgésico (alivia a dor)
- Anti-inflamatório (reduz inflamações)
- Antibacteriano (combate bactérias)
- Antimicobacteriano (combate micobactérias)
- Antipirético (reduz a febre)
- Antitumoral (inibe o crescimento de tumores)
- Antiviral (combate vírus)
- Ansiolítico (reduz a ansiedade)
- Antioxidante (combate radicais livres)
- Espasmolítico (alivia espasmos musculares)
- Hipoglicemiante (reduz o açúcar no sangue)
- Inibidor de tirosina quinase (bloqueia enzimas envolvidas no crescimento celular)
- Neuroprotetor (protege o sistema nervoso)
- Sedativo (induz o sono e o relaxamento)
- Tónico (revigora e fortalece o organismo)
Perfil Fitoquímico Detalhado do Pau-Campeche
- Alcaloides
- Chalconas
- Fenólicos (incluindo 5′-O-metil-7′-etil éster do ácido p-dehidrodigálico)
- Flavonoides (incluindo quercetinas)
- Galotaninos (incluindo 2,6-bis-O-digaloil-3-O-galoillglicose e 2-O-trigaloil-1,3,4,6-tetrakis-O-galoillglicose)
- Glicosídeos
- Hematoxilina
- Homoisoflavonoides
- Lignanas
- Resinas
- Saponinas
- Taninos
Formas de Preparo e Administração do Pau-Campeche
- Decocção
- Extrato
- Infusão
Sinergia com Outras Plantas Medicinais
Aplicações Tópicas para Feridas e Inflamações
Para o tratamento de feridas e úlceras de pele, o pau-campeche pode ser associado a plantas com reconhecidas propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias, como a calêndula (Calendula officinalis) ou a babosa (Aloe vera). A ação adstringente do pau-campeche ajuda na cicatrização, enquanto as outras plantas contribuem para a regeneração tecidual e redução da inflamação local.
Combinações para Distúrbios Gastrointestinais
O pau-campeche, com suas propriedades adstringentes e antiespasmódicas, pode ser combinado com plantas como a camomila (Matricaria chamomilla) ou a hortelã-pimenta (Mentha × piperita) para potencializar o alívio de cólicas intestinais, diarreia e disenteria. A sinergia entre os taninos do pau-campeche e os compostos anti-inflamatórios de outras ervas pode oferecer um tratamento mais abrangente para distúrbios digestivos.
Receitas e Protocolos de Uso do Pau-Campeche
Compressas para Úlceras Cutâneas
Ingredientes: 20 gramas de lascas de cerne ou casca seca de pau-campeche, 500 ml de água.
Preparação: Preparar uma decocção concentrada, fervendo as lascas ou casca na água por 20-25 minutos. Coar e deixar arrefecer até ficar morno. Embeber compressas de gaze limpa na decocção e aplicar sobre as úlceras ou feridas cutâneas por 15-20 minutos, duas a três vezes ao dia. As propriedades adstringentes e antibacterianas do pau-campeche auxiliam na limpeza e cicatrização das lesões.
Decocção para Diarreia e Disenteria
Ingredientes: 10-15 gramas de lascas de cerne ou casca seca de pau-campeche, 500 ml de água.
Preparação: Colocar as lascas ou casca na água e levar ao fogo. Ferver por 15 a 20 minutos. Retirar do fogo, coar e deixar arrefecer. Consumir 1 chávena (aproximadamente 150 ml) três vezes ao dia. Esta decocção é tradicionalmente utilizada para combater diarreias e disenterias devido às suas propriedades adstringentes, que ajudam a reduzir a inflamação e a secreção intestinal.
Infusão de Folhas para Febre
Ingredientes: 5 gramas de folhas secas de pau-campeche, 250 ml de água fervente.
Preparação: Colocar as folhas numa chávena e adicionar a água fervente. Tapar e deixar em infusão por 10 minutos. Coar e consumir morno. Esta infusão é empregada na medicina tradicional para ajudar a reduzir a febre, aproveitando as propriedades antipiréticas e tónicas da planta. Recomenda-se o consumo de uma chávena, duas vezes ao dia, enquanto os sintomas persistirem.
Terapias Associadas ao Pau-Campeche
Fitoterapia Clínica
Na fitoterapia clínica, o pau-campeche é valorizado pelos seus extratos padronizados, especialmente aqueles ricos em hematoxilina e taninos. Estes extratos são empregados no tratamento de condições gastrointestinais, como diarreia crónica e disenteria, e como coadjuvante em terapias anti-inflamatórias. A dosagem e a forma de administração são cuidadosamente ajustadas por profissionais de saúde, considerando a condição específica do paciente e a possibilidade de interações medicamentosas. A pesquisa moderna continua a explorar o potencial antitumoral e neuroprotetor dos seus compostos.
Homeopatia
Embora não seja um remédio homeopático tão comum quanto outras plantas, o Haematoxylum campechianum pode ser utilizado em preparações homeopáticas para tratar sintomas específicos que correspondam ao seu perfil. Na homeopatia, a substância é diluída e dinamizada para estimular a capacidade de autocura do organismo. O uso homeopático do pau-campeche estaria focado em condições que se alinham com suas propriedades adstringentes e anti-inflamatórias, como distúrbios digestivos com diarreia ou inflamações.
Contraindicações e Efeitos Colaterais do Pau-Campeche
Contraindicações Gerais
O uso de Haematoxylum campechianum é contraindicado em indivíduos com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente da planta. Mulheres grávidas e lactantes devem evitar o seu consumo devido à ausência de estudos de segurança que comprovem a inocuidade para o feto ou bebé. Pessoas com distúrbios de coagulação sanguínea ou que estejam a tomar medicamentos anticoagulantes devem usar o pau-campeche com extrema cautela, pois os taninos presentes na planta podem potenciar os efeitos anticoagulantes, aumentando o risco de hemorragias.
Efeitos Colaterais Comuns
Os efeitos colaterais do pau-campeche são geralmente raros e leves quando utilizado nas doses recomendadas. Contudo, doses elevadas ou uso prolongado podem causar irritação gastrointestinal, manifestada por náuseas, vómitos ou desconforto abdominal. A aplicação tópica em peles sensíveis pode, em casos isolados, provocar irritação ou reações alérgicas. É sempre aconselhável iniciar o tratamento com doses baixas e observar a resposta individual.
Interações Medicamentosas
O pau-campeche pode interagir com medicamentos anticoagulantes, como a varfarina, devido à presença de taninos que podem afetar a coagulação. A combinação pode aumentar o risco de sangramento. Além disso, as propriedades adstringentes da planta podem, teoricamente, reduzir a absorção de outros medicamentos administrados oralmente. Recomenda-se um intervalo de pelo menos duas horas entre a ingestão do pau-campeche e outros fármacos. Sempre consulte um profissional de saúde antes de combinar o pau-campeche com qualquer medicação.
Curiosidades do Pau-Campeche
Importância Histórica Como Corante
O pau-campeche foi, durante séculos, uma das fontes de corante natural mais valiosas do mundo. Do século XVII ao XIX, sua madeira era intensamente explorada e exportada para a Europa, onde era utilizada para tingir tecidos de cores que variavam do marrom ao vermelho, roxo e preto, dependendo do processo de extração e dos mordentes empregados. Esta demanda impulsionou a economia de regiões como Belize, que se desenvolveu a partir de acampamentos de extração de madeira estabelecidos pelos ingleses.
Hematoxilina: Da Tinta à Ciência
A hematoxilina, um composto extraído da madeira do pau-campeche, transcendeu seu uso como corante têxtil para se tornar uma ferramenta indispensável na ciência. Atualmente, é amplamente utilizada em histologia para colorir amostras de tecidos em laboratórios, permitindo a visualização de estruturas celulares e facilitando o diagnóstico de doenças. Sua capacidade de corar núcleos celulares de azul a roxo é fundamental para a técnica de coloração de hematoxilina e eosina (H&E), um padrão-ouro na patologia.
Indicador Natural de pH
Além de suas aplicações como corante e na histologia, o extrato do pau-campeche possui uma propriedade interessante: atua como um indicador natural de pH. Em condições neutras, apresenta uma coloração acastanhada. Em ambientes ácidos, torna-se vermelho-amarelado, enquanto em condições alcalinas, adquire uma tonalidade roxa. Esta característica demonstra a versatilidade química da planta e seu potencial para diversas aplicações, inclusive em experimentos simples de química.
Luta Pelo “Ouro Negro”
A exploração do pau-campeche gerou conflitos significativos. A Espanha reivindicava o controle das terras onde a árvore crescia, enquanto ingleses, holandeses e franceses estabeleciam acampamentos ilegais para cortar e coletar a madeira. Esses confrontos, muitas vezes violentos, envolveram bucaneiros e piratas, que frequentemente se juntavam aos cortadores de madeira para atacar os navios espanhóis. O “ouro negro” do pau-campeche foi, assim, um catalisador de disputas territoriais e marítimas na América Central.
Nome Científico e Suas Raízes
O nome científico Haematoxylum campechianum é bastante descritivo. O termo “Haematoxylum” deriva do grego “haima” (sangue) e “xylon” (madeira), referindo-se à cor avermelhada intensa do cerne da árvore, que lembra sangue. Já “campechianum” faz alusão à região de Campeche, no México, de onde a planta é nativa e onde sua exploração foi historicamente proeminente. Esta etimologia reflete tanto a característica visual marcante da madeira quanto sua origem geográfica.
Perguntas Frequentes sobre o Pau-Campeche
O Que é o Pau-Campeche e Para Que Serve?
O pau-campeche (Haematoxylum campechianum) é uma árvore nativa do México e América Central, historicamente famosa por ser uma fonte de corante natural. Contudo, também é utilizado na medicina tradicional por suas propriedades adstringentes, anti-inflamatórias, antibacterianas e ansiolíticas, sendo empregado no tratamento de diarreia, cólicas, febre e inflamações cutâneas.
Quais São os Principais Compostos Ativos do Pau-Campeche?
O principal composto ativo do pau-campeche é a hematoxilina, responsável pela sua cor e uso em histologia. Além disso, a planta é rica em taninos, flavonoides, galotaninos, homoisoflavonoides e chalconas, que contribuem para suas diversas propriedades terapêuticas, como as ações antioxidante, anti-inflamatória e antiespasmódica.
O Pau-Campeche Possui Contraindicações ou Efeitos Colaterais?
Sim, o pau-campeche é contraindicado para pessoas com hipersensibilidade à planta, mulheres grávidas e lactantes. Deve ser usado com cautela por indivíduos com distúrbios de coagulação ou que tomam anticoagulantes, devido ao risco de interação. Em doses elevadas, pode causar irritação gastrointestinal. É fundamental consultar um profissional de saúde antes de iniciar o uso.
Como o Pau-Campeche é Tradicionalmente Preparado?
Tradicionalmente, o pau-campeche é preparado principalmente por decocção da madeira, casca ou folhas para uso interno (chás para diarreia, cólicas) ou externo (compressas para feridas). Também pode ser encontrado na forma de extratos e infusões de folhas. A forma de preparo depende da finalidade terapêutica desejada.
É Possível Cultivar Pau-Campeche em Casa?
O pau-campeche é uma árvore tropical que requer condições específicas de clima e solo. Embora seja possível cultivá-lo em regiões com clima adequado (quente e húmido), seu crescimento é lento e pode atingir portes consideráveis. Geralmente, é cultivado em larga escala para fins comerciais (extração de corante e hematoxilina) ou em projetos de reflorestamento em seu habitat natural.
Referências e Estudos Científicos
- Chablé-Vega, M. A., et al. (2024). The logwood tree extract serves as a contemporary source of hematoxylin, a key dye in the globally prevalent hematoxylin-eosin staining method. Journal of Ethnopharmacology.
- Escobar-Ramos, A., et al. (2017). Homoisoflavonoids and Chalcones Isolated from Haematoxylum campechianum L., with Spasmolytic Activity. Molecules.
- Escobar-Ramos, A., et al. (2022). Anxiolytic effect of the heartwood of Haematoxylum campechianum L. and sappanchalcone in an in vivo model in mice. Journal of Ethnopharmacology.
- Euan-Tun, J. L., et al. (2021). Haematoxylum campechianum – en Campeche, México. Redalyc.
- Facey, P. C., et al. (1999). Investigation of plants used in Jamaican folk medicine for anti-bacterial activity. Journal of Pharmacy and Pharmacology.
- Hikino, H., et al. (1977). Antiinflammatory principles of Caesalpinia sappan wood and of Haematoxylon campechianum wood. Planta Medica.
- Kandil, F. E., et al. (1996). Gallotannins and flavonoids from Haematoxylon campechianum. Phytochemistry.
- Kandil, F. E., et al. (1999). Phenolics and flavonoids from haematoxyloncampechianum. Phytochemistry.
- Sobeh, M., et al. (2020). Haematoxylon campechianum Extract Ameliorates Neuropathic Pain via Inhibition of NF-κB/TNF-α/NOX/iNOS Signalling Pathway in a Rat Model of Chronic Constriction Injury. Biomolecules.