Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan / Angico, conhecida popularmente como angico, angico-branco, angico-vermelho, arapiraca, curupay, cebil ou vilca, é uma árvore decídua da família Fabaceae, comumente encontrada na América do Sul. Esta espécie é valorizada há milénios pelas suas diversas aplicações, que abrangem desde usos medicinais tradicionais até rituais indígenas.
A Anadenanthera colubrina pode atingir entre 5 e 20 metros de altura, e o seu tronco é frequentemente espinhoso. As suas folhas, semelhantes às da mimosa, podem ter até 30 cm de comprimento e dobram-se durante a noite. No Brasil, a espécie possui um estatuto de conservação de “alta prioridade”.
A tradição etnobotânica sul-americana confere à Anadenanthera colubrina um papel significativo, tanto em práticas curativas quanto em cerimónias espirituais. A sua casca, sementes e folhas são empregadas para tratar uma variedade de condições, desde problemas respiratórios até inflamações e parasitas intestinais.
A pesquisa científica moderna tem vindo a validar muitas destas aplicações tradicionais, identificando uma rica composição fitoquímica que sustenta as suas propriedades farmacológicas. Contudo, é crucial notar o potencial tóxico das sementes devido à presença de compostos psicoativos, que historicamente foram utilizados em rituais alucinógenos.
Nomes Populares e Internacionais do Angico
- Português: angico, angico-branco, angico-vermelho, arapiraca, cebil, curupay, vilca.
- Espanhol: angico, cebil, curupay, huilca, huilco, vilca, wilco, willka.
- Inglês: angico, cebil, curupay, vilca, willka.
- Francês: angico, cebil, curupay, vilca.
- Italiano: angico, cebil, curupay, vilca.
- Alemão: Angico, Cebil, Curupay, Vilca.
Sinónimos Botânicos do Angico
Os sinónimos botânicos da Anadenanthera colubrina incluem Acacia colubrina Mart., Piptadenia colubrina (Vell.) Benth. e Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan. A taxonomia desta espécie tem sido objeto de estudo e reclassificação ao longo do tempo, refletindo a complexidade da sua identificação e distribuição geográfica. A denominação atual, Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, é amplamente aceite na literatura botânica contemporânea, embora outras designações ainda possam ser encontradas em contextos históricos ou regionais.
Família Botânica: Fabaceae

Ilustração botânica de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (angico, vilca, cebil), árvore da família Fabaceae, nativa da América do Sul, mostrando sementes planas e orbiculares de cor marrom brilhante, dispostas dentro de uma vagem alongada e plana, com detalhes da casca espinhosa e folhas bipinadas, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.
A Anadenanthera colubrina pertence à família Fabaceae, também conhecida como Leguminosae, uma das maiores famílias de plantas com flores, caracterizada pela presença de vagens (frutos) e pela capacidade de muitas das suas espécies de fixar nitrogénio no solo. Esta família inclui uma vasta gama de plantas de grande importância económica, alimentar e medicinal, como feijões, ervilhas, lentilhas e diversas árvores.
As Fabaceae são reconhecidas pela sua diversidade química, produzindo uma variedade de compostos bioativos, incluindo alcaloides, flavonoides e taninos, que conferem propriedades medicinais a muitas das suas espécies. A importância desta família na fitoquímica e na medicina tradicional é amplamente documentada.
Partes Utilizadas do Angico
- Casca
- Folhas
- Goma
- Sementes
Usos Etnobotânicos e Tradicionais do Angico
- Alucinógeno em rituais religiosos
- Anti-inflamatório
- Asma
- Bronquite
- Cicatrização de feridas
- Constipação
- Doenças de pele
- Parasitas intestinais
- Problemas respiratórios
- Purgativo
- Tosse
Propriedades Terapêuticas do Angico
- Anti-aditivo (ajuda a reduzir a dependência)
- Anti-inflamatório (reduz inflamações)
- Antimicrobiano (combate microrganismos)
- Antinociceptivo (reduz a perceção da dor)
- Antioxidante (combate radicais livres)
- Antitumoral (previne o crescimento de tumores)
- Antifúngico (combate fungos)
- Alelopático (inibe o crescimento de outras plantas)
- Cicatrizante (promove a cicatrização de feridas)
- Inseticida (mata insetos)
Perfil Fitoquímico Detalhado do Angico
- 2,9-dimetiltriptolina
- 2-metiltriptolina
- 5-MeO-DMT
- Alcaloides (Bufotenina, DMT, 5-MeO-DMT, Metiltriptamina)
- Anadantoflavona
- Bufotenina
- Bufotenina-óxido
- Catecol
- Compostos fenólicos
- DMT
- DMT-óxido
- Esteroides
- Flavonoides (Orientina, Saponarentina, Viterina)
- Leucoantocianina
- Leucopelargonidol
- Metiltriptamina
- Saponinas
- Taninos
- Triterpenos
Formas de Preparo e Administração do Angico

Chá de Angico.
Decocção da Casca
A decocção da casca de Anadenanthera colubrina é uma das formas mais comuns de preparo para uso medicinal. Para preparar, ferva 10-15 gramas de casca seca em 500 ml de água por cerca de 15 minutos. Coe e beba o líquido morno. Esta preparação é tradicionalmente utilizada para aliviar problemas respiratórios, como tosse e bronquite, e também pelas suas propriedades anti-inflamatórias. Recomenda-se a consulta a um profissional de saúde antes do uso.
Infusão de Folhas
As folhas de angico podem ser utilizadas para preparar uma infusão. Adicione 1 colher de chá de folhas secas picadas a 200 ml de água fervente. Deixe em infusão por 5-10 minutos, coe e beba. Esta infusão é empregada em algumas tradições para tratar doenças de pele e como um tónico geral. É importante garantir que as folhas sejam de uma fonte segura e que não haja contaminação.
Uso Tópico da Goma
A goma extraída do tronco da Anadenanthera colubrina pode ser utilizada topicamente. Dissolva uma pequena quantidade da goma em água para formar uma pasta e aplique sobre feridas ou inflamações cutâneas. A goma possui propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias, auxiliando na recuperação da pele. Teste sempre uma pequena área da pele antes de aplicar amplamente para verificar reações alérgicas.
Sinergia com Outras Plantas
Combinações para Problemas Respiratórios
A Anadenanthera colubrina pode ser combinada com outras plantas com propriedades expectorantes e anti-inflamatórias para potenciar o tratamento de problemas respiratórios. Plantas como o eucalipto (Eucalyptus globulus) e o guaco (Mikania glomerata) são frequentemente utilizadas em sinergia com o angico para aliviar a tosse, a bronquite e a congestão nasal. A combinação destas plantas pode oferecer um efeito mais abrangente e eficaz no combate a infeções e inflamações do trato respiratório.
Suporte Anti-inflamatório
Para um suporte anti-inflamatório mais robusto, o angico pode ser associado a plantas como a cúrcuma (Curcuma longa) ou o gengibre (Zingiber officinale). Estas plantas são conhecidas pelas suas potentes propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que podem complementar os efeitos da Anadenanthera colubrina. A sinergia entre estes compostos pode ser benéfica no manejo de condições inflamatórias crónicas, sempre sob orientação de um especialista.
Receitas e Protocolos de Uso do Angico
Cataplasma para Feridas
Ingredientes: Casca de angico em pó, água filtrada.
Modo de Preparo: Misture a casca de angico em pó com um pouco de água até formar uma pasta consistente. Aplique diretamente sobre feridas limpas ou áreas inflamadas da pele. Cubra com um pano limpo e deixe atuar por 30 minutos a 1 hora. As propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias do angico podem auxiliar na recuperação de lesões cutâneas. Repita o processo duas vezes ao dia até a melhora.
Xarope Caseiro para Tosse
Ingredientes: 20g de casca de angico picada, 500ml de água, 200g de mel puro, sumo de 1 limão.
Modo de Preparo: Ferva a casca de angico na água por 20 minutos. Coe e reduza o líquido para cerca de 250ml em lume brando. Deixe arrefecer e adicione o mel e o sumo de limão, misturando bem. Guarde em frasco esterilizado na geladeira. Tome 1 colher de sopa, 3 vezes ao dia, para aliviar a tosse e a irritação da garganta. Este xarope combina as propriedades expectorantes do angico com as qualidades suavizantes do mel e do limão.
Terapias Associadas

Árvore de angico (Anadenanthera colubrina / Anadenanthera macrocarpa)
Fitoterapia
Na fitoterapia, a Anadenanthera colubrina é valorizada pelas suas ações anti-inflamatórias, antimicrobianas e expectorantes. É frequentemente utilizada para tratar infeções respiratórias, inflamações e como suporte para a cicatrização de feridas. Os extratos da casca são os mais estudados e aplicados, sendo a planta considerada um recurso importante na medicina tradicional sul-americana. A sua aplicação na fitoterapia moderna ainda requer mais estudos para elucidar completamente os mecanismos de ação e padronizar as dosagens.
Homeopatia
Embora não seja um remédio homeopático tão comum quanto outras plantas, a Anadenanthera colubrina pode ser utilizada em preparações homeopáticas, especialmente para condições que se assemelham aos seus efeitos tóxicos ou medicinais em doses ponderais. A homeopatia baseia-se no princípio da similitude, onde uma substância que causa sintomas em uma pessoa saudável pode curar sintomas semelhantes em uma pessoa doente, quando administrada em doses ultradiluídas. O uso homeopático do angico seria direcionado a sintomas específicos que correspondam ao seu perfil.
Contraindicações e Efeitos Colaterais do Angico
Contraindicações Gerais
A Anadenanthera colubrina, especialmente as suas sementes, contém alcaloides psicoativos como a bufotenina, DMT e 5-MeO-DMT, que podem ser tóxicos e causar efeitos alucinógenos. Por esta razão, o uso das sementes é estritamente contraindicado para fins medicinais sem supervisão especializada e conhecimento aprofundado dos riscos.
Efeitos Colaterais
O consumo de preparações à base de sementes pode levar a náuseas, vómitos, tonturas, alterações da perceção e, em casos mais graves, complicações neurológicas e cardiovasculares. Mulheres grávidas ou a amamentar, crianças e indivíduos com histórico de distúrbios psiquiátricos devem evitar o uso de qualquer parte da planta, especialmente as sementes. Devido à presença de taninos, o uso prolongado ou em doses elevadas pode causar irritação gastrointestinal.
Interações Medicamentosas
Embora a casca e as folhas sejam consideradas mais seguras para uso medicinal tradicional, ainda é essencial ter cautela. Podem ocorrer reações alérgicas em indivíduos sensíveis. A planta pode interagir com medicamentos que atuam no sistema nervoso central, como antidepressivos e ansiolíticos, potencializando os seus efeitos. É fundamental consultar um profissional de saúde qualificado antes de iniciar qualquer tratamento com Anadenanthera colubrina, para avaliar os riscos e benefícios e garantir a segurança do paciente.
Curiosidades e Fatos Históricos sobre o Angico
Importância Ecológica e Económica
Além dos seus usos medicinais e rituais, a Anadenanthera colubrina tem uma significativa importância ecológica e económica em diversas regiões. A sua madeira é valorizada para construção, fabrico de móveis e implementos agrícolas, sendo também uma fonte preferencial de lenha devido à sua alta capacidade calorífica e longa duração da queima.
A árvore é amplamente utilizada na construção de cercas, pois a sua madeira é resistente a cupins. A goma extraída do tronco pode ser usada de forma semelhante à goma arábica, e os taninos presentes na casca são empregados na indústria para o curtimento de couros. A sua capacidade de crescer em solos rochosos e bem drenados, juntamente com o seu rápido crescimento, a torna uma espécie resiliente e valiosa para a recuperação de áreas degradadas.
Uso Ancestral como Alucinógeno
A Anadenanthera colubrina possui uma rica história de uso ancestral como alucinógeno em rituais xamânicos na América do Sul. As sementes, conhecidas como vilca ou cebil, eram moídas e inaladas como rapé por diversas culturas pré-colombianas, incluindo os Tiwanaku e os Wichi. Evidências arqueológicas, como cachimbos feitos de ossos de puma contendo sementes de A. colubrina datadas de 2130 a.C., sugerem que o uso desta planta para fins psicoativos remonta a mais de 4.000 anos. Estes rituais eram frequentemente associados a práticas divinatórias e de comunicação com o mundo espiritual, desempenhando um papel central nas cosmovisões andinas.
Perguntas Frequentes sobre o Chá de Angico
O Chá de Angico é Seguro para Todos?
O chá de angico, preparado a partir da casca ou folhas, é geralmente considerado seguro para a maioria dos adultos quando consumido com moderação. Contudo, devido à presença de taninos e outros compostos, pode causar irritação gastrointestinal em algumas pessoas. É crucial evitar o consumo de chás ou preparações feitas a partir das sementes, pois estas contêm alcaloides psicoativos e podem ser tóxicas. Mulheres grávidas, lactantes, crianças e indivíduos com condições médicas preexistentes ou que tomam medicação devem consultar um profissional de saúde antes de usar o chá de angico.
Quais são os Principais Benefícios do Chá de Angico?
O chá de angico é tradicionalmente valorizado pelas suas propriedades expectorantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas. É frequentemente utilizado para aliviar sintomas de problemas respiratórios, como tosse, bronquite e constipações. Além disso, pode auxiliar na cicatrização de feridas e no tratamento de algumas condições de pele quando aplicado topicamente. A sua ação anti-inflamatória também pode ser benéfica para reduzir dores e inchaços. No entanto, é importante lembrar que estas são aplicações tradicionais e a pesquisa científica ainda está a explorar todos os seus potenciais benefícios.
Como Devo Preparar o Chá de Angico?
Para preparar o chá de angico a partir da casca, utilize cerca de 10 a 15 gramas de casca seca para 500 ml de água. Ferva a casca na água por aproximadamente 15 a 20 minutos. Após a fervura, coe o líquido e beba morno. Se preferir usar as folhas, adicione 1 colher de chá de folhas secas picadas a 200 ml de água fervente e deixe em infusão por 5 a 10 minutos antes de coar. Evite usar as sementes para preparações de chá devido ao seu potencial tóxico. A dosagem e a frequência de consumo devem ser ajustadas conforme a necessidade e sempre com orientação profissional.
Referências e Estudos Científicos
- Delices, M., de Araújo Isaías Muller, J., Arunachalam, K., & Tabajara de Oliveira Martins, D. (2023). Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan: Ethnobotanical, phytochemical, pharmacological and toxicological aspects. Journal of Ethnopharmacology, 300, 115745.
- Lema, V. S., & Pochettino, M. L. (2011). Anadenanthera colubrina var. cebil (Fabaceae): A psychoactive plant from the Southern Andes. Economic Botany, 65(4), 335-346.
- Lema, V. S., & Pochettino, M. L. (2024). Contemporary Uses of Vilca (Anadenanthera colubrina var cebil): A Major Ritual Plant in the Andes. Plants, 13(17), 2398. NCBI PMC.
- Wikipedia. (s.d.). Anadenanthera colubrina.