Tamboril (Enterolobium contortisiliquum): Propriedades e Benefícios

Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong / Tamboril, conhecida popularmente como tamboril, orelha-de-negro, timbaúva e orelha-de-macaco, é uma árvore nativa e típica da flora brasileira, pertencente à família Fabaceae. Descrita por José Mariano da Conceição Vellozo e reclassificada por Nathaniel Lord Britton e Joseph Nelson Rose, esta espécie é amplamente distribuída na América do Sul. Reconhecida pela sua copa ampla e frutos em forma de vagem recurvada, que lembram uma orelha, a planta possui uma rica história de uso tradicional. Desde a utilização da sua madeira até às suas aplicações medicinais, o tamboril tem sido valorizado em diversas culturas.

A investigação científica moderna tem vindo a validar muitos dos usos etnobotânicos do tamboril, revelando um perfil fitoquímico complexo. Compostos como saponinas triterpênicas, flavonoides e ácidos fenólicos são responsáveis pelas suas propriedades biológicas. Embora seja uma planta com potencial terapêutico, é crucial compreender as suas contraindicações, especialmente a toxicidade para ruminantes devido à presença de saponinas. Este artigo explora as diversas facetas do tamboril, desde a sua botânica até às suas aplicações e precauções.

Nomes Populares e Internacionais do Tamboril

  • Português: tamboril, orelha-de-negro, timbaúva, orelha-de-macaco, faveira-de-bolota, faveira-de-chorão, faveira-de-orelha, faveiro, orelha-de-negro, pacará, pau-de-sabão, saboneteira, tambori, tamboril-do-campo, tamboril-verdadeiro, timbaúba, timbaúva, timboúva.
  • Espanhol: timbó, timbó colorado, pacará, oreja de negro, feuillea contortisiliqua.
  • Inglês: earpod tree, pacara earpod tree, monkey earpod tree, elephant earpod tree.
  • Francês: arbre à oreilles.
  • Alemão: Ohrhülsenbaum.
  • Italiano: albero dell’orecchio.

Sinónimos Botânicos do Tamboril

Acacia melalobiata Rojas Acosta, Acacia saponaria Heyne ex Benth., Calliandra pacara Griseb., Enterolobium glaucescens Mart., Feuilleea pacara (Griseb.) Kuntze, Mimosa contortisiliqua Vell.

Família Botânica: Fabaceae

Ilustração botânica de Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong (tamboril, orelha-de-negro, timbaúva), árvore nativa da flora brasileira da família Fabaceae, descrita por Vellozo e reclassificada por Morong, mostrando a planta completa com folhas bipinadas, flores em capítulo globoso e frutos em vagem recurvada que lembram uma orelha, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.

Ilustração botânica de Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong (tamboril, orelha-de-negro, timbaúva), árvore nativa da flora brasileira da família Fabaceae, descrita por Vellozo e reclassificada por Morong, mostrando a planta completa com folhas bipinadas, flores em capítulo globoso e frutos em vagem recurvada que lembram uma orelha, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.

A família Fabaceae, também conhecida como Leguminosae, é uma das maiores e mais diversas famílias de plantas com flores, com cerca de 765 géneros e mais de 19.500 espécies. Caracteriza-se pela presença de frutos em vagem (legumes) e pela capacidade de muitas das suas espécies de fixar nitrogénio atmosférico através de uma simbiose com bactérias do solo. Esta família inclui plantas de grande importância económica, alimentar e medicinal, como feijões, ervilhas, lentilhas, amendoins e diversas árvores florestais.

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O tamboril, como membro da Fabaceae, partilha estas características distintivas. A sua capacidade de enriquecer o solo com nitrogénio torna-o valioso em sistemas agroflorestais e em programas de reflorestação. A diversidade fitoquímica da família é vasta, com muitas espécies produzindo alcaloides, flavonoides, saponinas e taninos, que conferem uma ampla gama de propriedades biológicas e medicinais.

Partes Usadas para Chás e Preparações do Tamboril

  • Casca do fruto (pericarpo)
  • Raízes
  • Sementes

Usos Etnobotânicos e Tradicionais do Tamboril

  • Antiparasitário (vermes)
  • Arborização e paisagismo
  • Construção civil
  • Gonorreia
  • Jangadas (raízes)
  • Produção de carvão
  • Produção de celulose
  • Produção de mel
  • Sabão (saponinas)

Propriedades Terapêuticas do Tamboril

  • Anthelmíntico (combate vermes intestinais)
  • Antibacterial (combate bactérias)
  • Anticancerígeno (inibe o crescimento de células cancerígenas)
  • Anti-inflamatório (reduz inflamações)
  • Citotóxico (tóxico para células, incluindo cancerígenas)
  • Inseticida (mata insetos)
  • Larvicida (mata larvas)
  • Ovicida (mata ovos)

Perfil Fitoquímico Detalhado do Tamboril

  • Ácido 9,12-octadecadienoico
  • Ácido gálico
  • Ácido hexadecanoico
  • Ácido p-cumárico
  • Ácido protocatecuico
  • Ácido siríngico
  • Alfa-Amirina
  • Aminoácidos (leucina, isoleucina, ácido glutâmico, ácido aspártico)
  • Beta-Amirina
  • Catequina
  • Esteróis
  • Flavonoides
  • Glicose
  • Isovitexina
  • Polissacarídeos
  • Pirogalol
  • Quercetina
  • Quercetina-7-O-rutinosídeo
  • Ramnose
  • Saponinas triterpênicas (bisdesmosídicas e monodesmosídicas de ácido acácico)
  • Xilose

Formas de Preparo e Administração do Tamboril

  • Decocção (casca, raízes)
  • Extratos (pericarpo, sementes)
  • Infusão (sementes)

Sinergia com Outras Plantas Medicinais

Parasitoses Intestinais

A combinação do tamboril com outras plantas antiparasitárias, como o alho (Allium sativum) ou a semente de abóbora (Cucurbita pepo), pode potenciar os efeitos anthelmínticos. O tamboril, com as suas saponinas, atua sinergicamente com os compostos sulfurados do alho ou as cucurbitinas da semente de abóbora, criando um ambiente desfavorável para parasitas intestinais. Esta abordagem integrada pode ser mais eficaz na eliminação de vermes e outros parasitas, reduzindo a carga parasitária no organismo.

Suporte Antioxidante

Para um suporte antioxidante, o tamboril pode ser combinado com plantas ricas em antioxidantes, como o chá verde (Camellia sinensis) ou a romã (Punica granatum). Os flavonoides e ácidos fenólicos presentes no tamboril atuam em conjunto com as catequinas do chá verde ou os elagitaninos da romã, protegendo as células contra o stress oxidativo. Esta sinergia pode contribuir para a saúde celular geral e para a prevenção de doenças crónicas associadas aos danos dos radicais livres.

Modo de Uso

Decocção da Casca para Uso Tópico

Ingredientes: 20 g de casca seca de tamboril, 500 ml de água.

Preparação: Ferver a casca em água por 15-20 minutos. Coar e deixar arrefecer. Utilizar a decocção para compressas ou lavagens em áreas afetadas por inflamações cutâneas ou infecções leves. A aplicação tópica pode ajudar a reduzir a inflamação e a combater microrganismos, aproveitando as propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias da planta.

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Infusão de Sementes para Propriedades Anthelmínticas

Ingredientes: 5 g de sementes trituradas de tamboril, 250 ml de água fervente.

Preparação: Adicionar as sementes trituradas à água fervente. Deixar em infusão por 10 minutos. Coar e consumir. Esta infusão é tradicionalmente utilizada para combater parasitas intestinais. Recomenda-se cautela e acompanhamento profissional devido à presença de saponinas nas sementes, que podem ser tóxicas em doses elevadas.

Terapias Associadas ao Tamboril

Fitoterapia

Na fitoterapia, o tamboril é valorizado pelas suas propriedades anthelmínticas, anti-inflamatórias e antimicrobianas. Extratos padronizados do pericarpo ou das sementes podem ser utilizados sob orientação de um profissional de saúde para o tratamento de parasitoses, suporte em condições inflamatórias e como agente antimicrobiano. A fitoterapia moderna busca otimizar a dosagem e a forma de administração para maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos associados aos compostos bioativos da planta.

Contraindicações e Efeitos Colaterais do Tamboril

Contraindicações Gerais

O tamboril é contraindicado para mulheres grávidas e lactantes, devido à falta de estudos que comprovem a sua segurança nestes grupos. Indivíduos com doenças hepáticas ou renais preexistentes devem evitar o uso, pois alguns de seus compostos podem sobrecarregar esses órgãos. A ingestão de grandes quantidades da planta, especialmente das vagens, é conhecida por causar toxicidade em ruminantes, levando a fotossensibilização, abortos e problemas digestivos graves. Embora a toxicidade em humanos não seja tão bem documentada, a prudência sugere evitar o consumo excessivo ou sem supervisão.

Efeitos Colaterais Comuns

Em doses elevadas, as saponinas presentes no tamboril podem causar irritação gastrointestinal, náuseas, vómitos e diarreia. Reações alérgicas, embora raras, podem ocorrer em indivíduos sensíveis, manifestando-se como erupções cutâneas ou prurido. É fundamental observar qualquer reação adversa e descontinuar o uso imediatamente caso ocorram sintomas indesejados. A consulta a um profissional de saúde é recomendada antes de iniciar qualquer tratamento com tamboril.

Interações Medicamentosas

Devido à presença de saponinas, o tamboril pode interagir com medicamentos que afetam a absorção intestinal ou a função hepática. Pode potenciar o efeito de diuréticos ou laxantes, e interferir com a absorção de outros fármacos. Pacientes em uso de anticoagulantes, anti-inflamatórios ou medicamentos para doenças crónicas devem ter cautela e procurar aconselhamento médico antes de usar o tamboril, a fim de evitar interações adversas.

Curiosidades e Fatos Históricos sobre o Tamboril

O nome popular “tamboril” remete ao formato de seus frutos, que se assemelham a uma orelha ou a um tambor. Esta característica peculiar é a origem de outros nomes populares como “orelha-de-negro” e “orelha-de-macaco”. A árvore é um símbolo da flora brasileira, presente em diversas regiões e com uma história de uso que se entrelaça com as comunidades locais. Além do seu valor medicinal, o tamboril é apreciado pela sua madeira e pela sua beleza ornamental, sendo frequentemente utilizado em projetos de paisagismo e arborização urbana. A sua presença contribui para a biodiversidade e para a cultura popular brasileira.

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Perguntas Frequentes sobre o Chá de Tamboril

O Chá de Tamboril é Seguro Para Consumo Humano?

O consumo de chá de tamboril deve ser feito com cautela e sob orientação profissional. Embora algumas partes da planta sejam usadas tradicionalmente, a presença de saponinas pode causar efeitos adversos em doses elevadas. Não há estudos suficientes que comprovem a segurança do consumo regular em humanos. É crucial consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento com esta planta, especialmente para evitar interações medicamentosas e efeitos colaterais indesejados.

Quais São os Principais Benefícios do Tamboril?

O tamboril é reconhecido pelas suas propriedades anthelmínticas, antibacterianas, anti-inflamatórias e citotóxicas. Tradicionalmente, é utilizado para combater parasitas intestinais e para tratar condições inflamatórias. Estudos científicos têm investigado o seu potencial anticancerígeno e antimicrobiano, atribuindo estas atividades aos seus compostos fitoquímicos, como saponinas e flavonoides. Contudo, mais pesquisas são necessárias para validar plenamente estes benefícios e estabelecer dosagens seguras e eficazes para uso humano.

O Tamboril Pode Ser Usado Durante a Gravidez?

Não, o tamboril é contraindicado para mulheres grávidas e lactantes. A falta de estudos que comprovem a sua segurança durante a gravidez e a amamentação torna o seu uso desaconselhável. Alguns compostos presentes na planta podem ter efeitos que não são seguros para o desenvolvimento fetal ou para o bebé. É fundamental que mulheres grávidas ou a amamentar evitem o consumo de tamboril e procurem sempre aconselhamento médico antes de utilizar qualquer planta medicinal.

Como o Tamboril Interage com Outros Medicamentos?

Devido à presença de saponinas, o tamboril pode interagir com diversos medicamentos, especialmente aqueles que afetam a absorção intestinal, a função hepática ou a coagulação sanguínea. Pode potenciar os efeitos de diuréticos, laxantes e anticoagulantes, e interferir com a absorção de outros fármacos. Pacientes que estejam a tomar medicamentos para doenças crónicas devem consultar um profissional de saúde antes de usar o tamboril para evitar interações adversas e garantir a segurança do tratamento.

Referências e Estudos Científicos

  1. Wikipedia. (s.d.). Enterolobium contortisiliquum.
  2. Useful Tropical Plants. (s.d.). Enterolobium contortisiliquum.
  3. Matloub, A. A., Mohammed, R. S., El Souda, S. S., El-Hallouty, S. M., Gomaa, E. Z., & Hassan, A. A. (2018). Phytochemical and Biological Studies on Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Pericarps. Journal of Materials and Environmental Sciences, 9(10), 2768-2778.
  4. Bezerra, J. J. L., Pinheiro, A. A. V., & Lucena, R. B. (2021). Phytochemistry and poisoning in ruminants by Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong (Fabaceae): A systematic review. Toxicon, 201, 46-53.
  5. Barros, F. B., Azevedo, F. R., Cândido, E. L., Alencar, C. H., Júnior, F. N. P., & Rodrigues, A. R. S. (2023). Phytochemical prospection, hemagglutinating and insecticidal activity of saline extracts from the seeds of Tamboril (Enterolobium contortisiliquum) Vell. Morong (Fabaceae) on Aedes aegypti (Diptera: Culicidae). Brazilian Journal of Biology, 83.
  6. Arboles Ornamentales. (s.d.). ENTEROLOBIUM CONTORTISILIQUUM – Árboles ornamentales.
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