Combretum afrum (Eckl. & Zeyh.) Kuntze / Combretum-afrum, anteriormente conhecido como Combretum caffrum, é uma espécie de árvore decídua de pequeno a médio porte, nativa da África do Sul. Pertencente à família Combretaceae, esta planta é valorizada na medicina tradicional africana pelas suas diversas aplicações terapêuticas. A reclassificação de Combretum caffrum para Combretum afrum ocorreu em julho de 2024, visando eliminar terminologias botânicas com origens racialmente insensíveis. A planta é reconhecida pela sua robustez e pela presença de compostos fitoquímicos com notáveis propriedades biológicas.
Conhecido popularmente como Eastern Cape bushwillow na África do Sul, é uma espécie notável da família Combretaceae, endêmica da Província do Cabo Oriental. Esta planta, que se manifesta como um arbusto decíduo ou uma árvore de pequeno a médio porte, alcançando tipicamente entre 5 a 10 metros de altura, possui uma importância etnobotânica significativa nas comunidades sul-africanas. Historicamente, o gênero Combretum tem sido amplamente utilizado na medicina tradicional africana para o tratamento de uma vasta gama de doenças, incluindo infeções, inflamações e distúrbios gastrointestinais.
Nomes Populares e Internacionais do Combretum afrum
- Português: Combretum-afrum, Combreto-do-Cabo.
- Espanhol: Sauce del Cabo Oriental.
- Inglês: Eastern Cape bushwillow, Cape bushwillow.
- Francês: Saule du Cap Oriental.
- Italiano: Salice del Capo Orientale.
- Alemão: Kap-Buschweide.
- Afrikaans: Kaapse vaderlandswilg.
- IsiXhosa: umdubu.
- IsiZulu: umdubu.
Sinónimos Botânicos do Combretum afrum
O nome científico aceite para esta espécie é Combretum afrum (Eckl. & Zeyh.) Kuntze. A nomenclatura botânica reflete a sua história taxonómica, tendo sido originalmente descrita por Christian Friedrich Ecklon e Karl Zeyher, e posteriormente reclassificada por Otto Kuntze. A estabilidade do seu nome facilita a pesquisa e a comunicação científica, embora o género Combretum seja vasto e por vezes complexo em termos de sinonímia.
Combretum caffrum (Eckl. & Zeyh.) Kuntze é o sinónimo botânico mais conhecido, embora a sua utilização tenha sido descontinuada. Outros sinónimos incluem Dodonaea afra Eckl. & Zeyh., Combretum salicifolium E.Mey. ex Hook., Dodonaea conglomerata Eckl. & Zeyh., e Dodonaea dubia Eckl. & Zeyh. A reclassificação para Combretum afrum foi formalizada em julho de 2024 pelo Congresso Botânico Internacional, com o termo afrum significando ‘da África’, refletindo a sua origem geográfica.
É fundamental que a literatura científica e as bases de dados taxonómicas mantenham a precisão na utilização do nome Combretum afrum para evitar confusões com outras espécies de Combretum que, embora relacionadas, possuem perfis fitoquímicos e usos distintos. A correta identificação botânica é o primeiro passo para a validação farmacológica e a segurança no uso de qualquer planta medicinal.
Família Botânica: Combretaceae

Ilustração botânica de Combretum afrum (antigo Combretum caffrum), árvore decídua nativa da África do Sul, mostrando planta completa com folhas elípticas, flores em espigas e frutos alados, em estilo de enciclopédia botânica do século XIX sobre fundo de papel de herbário.
O Combretum afrum pertence à família Combretaceae, uma família de plantas com flores que compreende cerca de 500 espécies distribuídas em cerca de 10 a 20 géneros, dependendo da classificação taxonómica. Esta família é predominantemente tropical e subtropical, com membros notáveis como Terminalia e Quisqualis. As espécies de Combretaceae são frequentemente árvores, arbustos ou lianas, e muitas delas são reconhecidas pela sua importância ecológica, madeireira e medicinal. Uma característica distintiva da família é a presença de tricomas glandulares ou escamas que secretam compostos, o que está intimamente ligado à sua rica fitoquímica.
A família é conhecida pela produção de taninos, triterpenos e, mais notavelmente, estilbenoides, como as combretastatinas, que são exclusivas do género Combretum. A diversidade química dentro da Combretaceae é um reflexo da sua adaptação a ambientes diversos e da sua coevolução com herbívoros e patógenos. O estudo aprofundado desta família continua a revelar novos compostos bioativos com potencial terapêutico, consolidando a sua importância na bioprospeção de novos medicamentos. A presença de C. afrum nesta família sublinha a sua relevância como fonte de compostos farmacologicamente ativos.
A árvore é caracterizada pela sua copa arredondada e pelos seus frutos distintivos de quatro asas, que mudam de verde-limão para um castanho-avermelhado vibrante no final do verão, conferindo-lhe um aspecto ornamental. A sua adaptabilidade a diversos habitats, desde margens de rios com solos aluviais até encostas de montanhas, demonstra a sua robustez ecológica.
Partes Utilizadas do Combretum-afrum
- Casca
- Folhas
- Frutos
- Raízes
Usos Etnobotânicos Tradicionais do Combretum-afrum
- Alívio de dores no corpo (adicionado à água do banho)
- Amuleto ou talismã (casca da raiz, na cultura Zulu)
- Construção (madeira para postes e trabalhos agrícolas)
- Lenha
- Tónico geral para promover cura e bem-estar
Propriedades Terapêuticas do Combretum-afrum
As propriedades terapêuticas do Combretum afrum são amplamente inferidas a partir da sua composição fitoquímica e dos usos tradicionais do género Combretum. Embora a investigação se concentre predominantemente no seu potencial anticancerígeno, outras atividades biológicas são relevantes. A presença de flavonoides e outros compostos fenólicos sugere uma capacidade de neutralizar radicais livres, protegendo as células contra o stress oxidativo.
Além disso, o uso tradicional em banhos para dores corporais aponta para propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. É crucial notar que a maioria destas propriedades não foi validada em ensaios clínicos específicos em humanos, mas são consistentes com a farmacologia de espécies relacionadas. A propriedade mais estudada e clinicamente relevante é a sua atividade citotóxica e vascular, mediada pela Combretastatina A-4. Esta substância atua como um agente antimitótico, interferindo na divisão celular de células cancerosas. A lista a seguir reflete as propriedades mais prováveis e/ou estudadas, baseadas na literatura científica e etnobotânica.
- Analgésico (alivia a dor, uso tradicional externo)
- Anti-inflamatório (reduz a inflamação, inferido pelo uso tradicional e fitoquímica)
- Antioxidante (combate radicais livres, inferido pela presença de flavonoides)
- Antitumoral (inibição do crescimento tumoral, mediado pela Combretastatina A-4)
- Citotóxico (tóxico para células cancerosas, mediado pela Combretastatina A-4)
- Vasoativo (afeta a vasculatura tumoral, mediado pela Combretastatina A-4)
Perfil Fitoquímico Detalhado do Combretum-afrum
O perfil fitoquímico do Combretum afrum é notável pela presença de uma classe específica de compostos, os estilbenoides, que são responsáveis pela sua atividade farmacológica mais significativa. A investigação fitoquímica do género Combretum revelou uma riqueza em flavonoides, triterpenos, taninos e ácidos fenólicos, que contribuem para as suas propriedades medicinais tradicionais.
- Ácidos fenólicos
- Ácidos graxos: Componentes essenciais para a estrutura celular.
- Cetonas: Moléculas orgânicas presentes em óleos essenciais.
- Combretastatina A-4 (CA-4)
- Combretastatinas (outros análogos)
- Cumarinas: Conhecidas pelas suas propriedades anticoagulantes e anti-inflamatórias.
- Estilbenoides: Incluem as combretastatinas (A-1, A-4, B-1), que são de particular interesse devido à sua potente atividade anticancerígena.
- Fenantreno: Um tipo de hidrocarboneto aromático policíclico.
- Fitoesteróis: Compostos vegetais que podem ajudar a reduzir o colesterol.
- Flavonoides: Conhecidos pelas suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
- Glicosídeos: Compostos que liberam açúcares e outras substâncias ativas após hidrólise.
- Iridoides: Glicosídeos com diversas atividades biológicas, incluindo anti-inflamatórias.
- Lignanas: Compostos com potencial antioxidante e anticancerígeno.
- Polifenólicos: Um grupo diversificado de compostos com fortes propriedades antioxidantes.
- Taninos: Compostos adstringentes com propriedades antioxidantes e antimicrobianas.
- Triterpenoides: Uma vasta classe de compostos com diversas atividades biológicas, incluindo anti-inflamatórias e anticancerígenas.
- Xantonas: Compostos com atividades antioxidantes, anti-inflamatórias e anticancerígenas.
Combretastatinas
O foco principal para o Combretum afrum é a família das combretastatinas, isoladas inicialmente da casca e da raiz. Estes compostos são di-hidroestilbenos que possuem uma estrutura química relativamente simples, mas com uma potência biológica extraordinária.
A presença destes metabolitos secundários sublinha a importância da planta como uma fonte natural de moléculas líderes para o desenvolvimento de novos fármacos. A variação na concentração destes compostos pode depender de fatores como a época de colheita, a parte da planta utilizada e as condições ambientais, o que exige um rigoroso controlo de qualidade para qualquer aplicação terapêutica. A tabela a seguir lista os principais compostos identificados ou inferidos para o combreto-do-cabo e o género Combretum.
Formas de Preparo e Administração do Combretum afrum
As formas de preparo e administração do combreto-do-cabo na medicina tradicional sul-africana são limitadas e focadas em usos externos ou tónicos gerais. Não existem protocolos de infusão ou decocção amplamente documentados para consumo interno seguro, dada a toxicidade e a potência dos seus compostos ativos, como a Combretastatina A-4. O uso mais comum é a aplicação externa, aproveitando as suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas inferidas.
Qualquer forma de administração interna deve ser considerada experimental e de alto risco, devido à natureza citotóxica do CA-4. A investigação moderna concentra-se na extração e purificação dos compostos ativos para o desenvolvimento de formulações farmacêuticas controladas, como injeções intravenosas do pró-fármaco CA4P, e não em preparações caseiras. A lista a seguir reflete as formas de preparo etnobotânicas e as formas farmacêuticas em desenvolvimento.
- Aplicação Tópica: Extratos ou preparações da planta podem ser aplicados diretamente na pele para tratar feridas e dores localizadas.
- Banhos: uso etnobotânico.
- Extractos: Utilizados para fins medicinais, concentrando os compostos bioativos da planta. Podem ser aquosos, alcoólicos ou de outras naturezas, dependendo do fitoquímico alvo.
- Extracto purificado: uso farmacêutico.
- Infusões/Decocções: Preparadas a partir da casca, folhas ou raízes, são usadas como tônico geral, para alívio de dores corporais e para problemas oculares.
- Pró-fármaco: uso farmacêutico, ex: CA4P.
Sinergia com Outras Plantas Medicinais
Potencial Sinergia em Formulações Tópicas Anti-inflamatórias
Embora o uso interno do Combretum afrum seja desaconselhado devido à sua potência, o seu uso tradicional em banhos para dores corporais sugere um potencial para sinergia em formulações tópicas. A combinação de extratos de combreto-do-cabo com plantas conhecidas pelas suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, como a garra-do-diabo (Harpagophytum procumbens) ou a calêndula (Calendula officinalis), poderia criar um bálsamo ou creme tópico mais eficaz.
O Harpagophytum contribuiria com os seus compostos vasoativos e anti-inflamatórios, enquanto as outras plantas adicionariam efeitos analgésicos e de cicatrização. Esta sinergia visaria o alívio de dores musculares e articulares, aproveitando a segurança do uso externo. A investigação nesta área poderia validar e modernizar o uso etnobotânico da planta.
Sinergia em Terapia Oncológica (Combretastatina A-4)
A sinergia mais relevante para o Combretum afrum não é com outras plantas, mas sim com terapias convencionais no contexto oncológico. O pró-fármaco CA4P (fosfato de Combretastatina A-4) é frequentemente estudado em combinação com quimioterapia (como Paclitaxel e Carboplatina) e radioterapia. O mecanismo sinérgico reside no facto de o CA4P atuar como um agente de direcionamento vascular, causando o colapso rápido dos vasos sanguíneos que alimentam o tumor.
Este colapso vascular aumenta a eficácia da quimioterapia e da radioterapia, que são mais ativas em células bem oxigenadas. Ao cortar o fornecimento de sangue, o CA4P cria um ambiente hipóxico que torna as células cancerosas mais vulneráveis a outros tratamentos. Esta abordagem combinada representa uma estratégia de ponta na oncologia, maximizando a destruição do tumor com toxicidade sistémica controlada.
Receitas e Protocolos de Uso do Combretum-afrum
Devido à potência e toxicidade da Combretastatina A-4, não existem receitas ou protocolos de uso caseiro seguros para o consumo interno de Combretum afrum. O uso tradicional limita-se a aplicações externas e tónicos gerais, que devem ser abordados com extrema cautela. O protocolo de uso mais relevante é o farmacêutico, que envolve a administração controlada do seu derivado sintético, o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P), em ambiente clínico.
Protocolo Farmacêutico: Administração de Fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P)
Este protocolo é estritamente clínico e não deve ser replicado em casa. O CA4P é administrado por via intravenosa, geralmente em combinação com outros agentes quimioterapêuticos. A dosagem e o regime são determinados por ensaios clínicos e dependem do tipo de cancro, do estado do paciente e da combinação terapêutica utilizada.
O objetivo é atingir uma concentração plasmática que permita a rápida conversão do pró-fármaco em CA-4 ativo no tumor, levando ao colapso vascular seletivo. Este protocolo é um exemplo de como um produto natural potente é transformado num medicamento de alta precisão, sublinhando a diferença entre o uso tradicional e a farmacologia moderna.
Receita Etnobotânica: Banho Tónico para Dores Corporais
Ingredientes: Casca ou folhas secas de Combretum afrum, água.
Preparação: Fazer uma decocção concentrada da casca ou das folhas, fervendo o material vegetal em água durante 20 a 30 minutos. Coar e adicionar a decocção à água do banho. O banho deve ser morno e a imersão deve durar cerca de 15 a 20 minutos. Este uso tradicional visa aliviar dores musculares e articulares, aproveitando os compostos anti-inflamatórios e analgésicos presentes na planta. É fundamental garantir que não haja feridas abertas na pele que possam facilitar a absorção sistémica de compostos potencialmente tóxicos.
Terapias Associadas ao Combretum-afrum
O Combretum afrum e os seus derivados são primariamente associados à oncologia e à farmacologia de ponta. No entanto, o seu uso tradicional e o perfil fitoquímico permitem a sua integração em terapias complementares, sempre com a ressalva de que o uso interno deve ser evitado.
Fitoterapia Clínica (Oncologia)
O uso mais proeminente do combreto-do-cabo na fitoterapia clínica moderna é através do seu derivado, o CA4P. Este é um exemplo de como a fitoterapia evoluiu para a farmacologia baseada em produtos naturais. O CA4P é utilizado como um agente antivascular tumoral, uma estratégia que complementa a quimioterapia e a radioterapia. A fitoterapia, neste contexto, não se limita ao uso da planta inteira, mas sim à utilização de moléculas isoladas e modificadas para maximizar a eficácia e a segurança no tratamento do cancro. O foco é em tumores sólidos e carcinomas anaplásicos da tiroide, onde o CA4P demonstrou resultados promissores em ensaios clínicos de fase II.
Medicina Tradicional Africana
Na medicina tradicional africana, o combreto-do-cabo é integrado num sistema de cura holístico. É usado como um tónico geral, muitas vezes em combinação com outras ervas, para promover o bem-estar e a recuperação. O uso em banhos para dores corporais insere-se na tradição de terapias externas para o alívio de sintomas musculoesqueléticos. Esta abordagem valoriza a planta inteira e a sua sinergia de compostos, contrastando com o foco da medicina ocidental na molécula isolada. A sua utilização como amuleto na cultura Zulu também reflete a sua importância espiritual e cultural, para além do seu valor puramente medicinal.
Contraindicações e Efeitos Colaterais do Combretum-afrum
A avaliação das contraindicações e efeitos colaterais do Combretum afrum é complexa, pois a maioria dos dados de toxicidade provém de estudos com o composto isolado (Combretastatina A-4) em ensaios clínicos de cancro, ou de estudos de toxicidade do género Combretum em modelos animais. É fundamental sublinhar que, devido à potência citotóxica do CA-4, o consumo interno da planta inteira ou de extratos não purificados é estritamente desaconselhado e potencialmente perigoso. A planta deve ser manuseada com cautela, e o seu uso medicinal deve ser limitado a preparações externas tradicionais, ou ao seu derivado farmacêutico sob estrita supervisão médica.
Contraindicações Absolutas
A principal contraindicação é o consumo interno da planta inteira ou de extratos não padronizados. Devido ao seu mecanismo de ação antimitótico e vasoativo, o CA-4 pode ser altamente tóxico para células saudáveis em doses não controladas. Outras contraindicações incluem gravidez e amamentação, devido ao risco de toxicidade fetal ou passagem de compostos ativos para o leite materno. Indivíduos com doenças cardiovasculares graves devem evitar o uso, pois o CA4P, o pró-fármaco, pode causar alterações na pressão arterial e no ritmo cardíaco devido à sua ação vascular. Pessoas com alergia conhecida a qualquer componente da família Combretaceae também devem evitar o contacto.
Efeitos Colaterais do Pró-fármaco (CA4P) em Ensaios Clínicos
Os efeitos colaterais observados em ensaios clínicos com o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P) são tipicamente agudos e relacionados com a sua ação vascular. Estes incluem dor no local da injeção, hipertensão transitória, dor de cabeça, náuseas e vómitos. Em casos mais raros, podem ocorrer eventos cardiovasculares mais graves, como isquemia miocárdica, devido ao colapso vascular induzido. Estes efeitos são geridos em ambiente hospitalar e são considerados aceitáveis no contexto do tratamento de cancros agressivos. É importante notar que estes efeitos são do medicamento sintético e não da planta, mas refletem a potência da molécula original.
Toxicidade Geral do Género Combretum
Estudos de toxicidade em modelos animais com outras espécies de Combretum (como C. micranthum) geralmente indicam uma baixa toxicidade aguda e subcrónica em doses elevadas (até 1000 mg/kg), sugerindo que o género pode ser relativamente seguro para o consumo de extratos aquosos. No entanto, esta informação não se aplica diretamente ao Combretum. afrum, que contém o potente CA-4. A toxicidade deve ser presumida como alta para consumo interno não controlado, devido à presença deste estilbeno. O uso tradicional em banhos, por outro lado, é considerado de baixo risco, pois a absorção cutânea é limitada.
Dosagens Recomendadas do Combretum-afrum
Devido à presença da Combretastatina A-4, um composto com potente atividade citotóxica e vasoativa, não existem dosagens seguras e recomendadas para o consumo interno de Combretum afrum como fitoterápico tradicional (chá, tintura, extrato). A planta não deve ser utilizada para autotratamento interno. A única dosagem estabelecida é a do seu derivado farmacêutico, o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P), que é administrado por via intravenosa em ambiente clínico e oncológico.
Dosagem Farmacêutica (CA4P)
A dosagem do CA4P é altamente variável e depende do protocolo de ensaio clínico e da condição do paciente. Tipicamente, a dosagem varia entre 60 mg/m² a 68 mg/m² de área de superfície corporal, administrada por infusão intravenosa. Este regime é estritamente controlado por oncologistas e não se aplica ao uso da planta inteira. A dosagem é calculada para atingir a concentração plasmática necessária para induzir o colapso vascular seletivo no tumor, minimizando a toxicidade sistémica.
Dosagem Etnobotânica (Uso Externo)
Para o uso etnobotânico em banhos tónicos para dores corporais, a dosagem é empírica e baseada na tradição. Geralmente, utiliza-se uma decocção concentrada de uma quantidade não especificada de casca ou folhas, adicionada à água do banho. Não há padronização científica para esta dosagem, e o seu efeito é principalmente tópico e aromático. Recomenda-se cautela e a observação de qualquer reação cutânea adversa.
Cultivo e Colheita do Combretum-afrum
O Combretum afrum é uma espécie nativa da África do Sul, o que implica que o seu cultivo requer condições climáticas e de solo que imitem o seu habitat natural. A planta é relativamente robusta e adaptável, mas prospera em ambientes específicos. A sua importância como fonte de Combretastatina A-4 levou a um interesse crescente no seu cultivo sustentável e na otimização da produção do composto ativo.
Condições de Cultivo
O combreto-do-cabo prefere solos bem drenados, incluindo substratos arenosos ou aluviais, como os encontrados nas margens dos rios do Cabo Oriental. A planta é decídua, perdendo as folhas no inverno, e requer exposição solar plena para um crescimento ótimo. É tolerante a uma variedade de condições de pH, mas o seu habitat natural sugere uma preferência por solos neutros a ligeiramente ácidos.
A propagação é feita principalmente por sementes, que devem ser colhidas dos frutos maduros e semeadas em substrato húmido. A germinação pode ser lenta e irregular, o que é comum em espécies lenhosas. A planta é resistente à seca, mas beneficia de rega regular durante os períodos de crescimento ativo.
Colheita e Processamento
A colheita do combreto-do-cabo para fins medicinais concentra-se na casca e nas raízes, que são as partes mais ricas em Combretastatina A-4. A extração da casca deve ser feita de forma sustentável, evitando o anelamento da árvore, que pode levar à sua morte. Já a colheita das raízes é destrutiva e deve ser reservada para o cultivo comercial.
O momento ideal para a colheita pode influenciar a concentração de CA-4, sendo que estudos fitoquímicos sugerem que a concentração pode variar sazonalmente. Após a colheita, o material vegetal deve ser seco à sombra e armazenado em condições controladas para preservar a integridade dos estilbenoides, que são sensíveis à luz e ao calor. O processamento subsequente envolve a extração e purificação do CA-4 para uso farmacêutico.
Investigação Científica e Estudos Clínicos
A investigação científica sobre o Combretum afrum é dominada pela descoberta e desenvolvimento da Combretastatina A-4 (CA-4). Embora a molécula tenha sido inicialmente isolada do Combretum caffrum, a espécie é reconhecida como uma fonte deste potente composto. A CA-4 é um di-hidroestilbeno que se liga à tubulina no local da colchicina, inibindo a sua polimerização e, consequentemente, a formação do fuso mitótico. Este mecanismo de ação antimitótico leva à morte celular por apoptose em células cancerosas. No entanto, a sua baixa solubilidade em água e a sua rápida metabolização limitaram o seu uso clínico direto.
Combretastatina A-4 (CA-4)
O Combretum afrum ganhou proeminência global não pelos seus usos tradicionais mais comuns, mas sim pela descoberta de um dos mais potentes agentes anticancerígenos derivados de produtos naturais: a Combretastatina A-4 (CA-4). Esta descoberta revolucionária transformou a percepção desta árvore, elevando-a de uma planta de uso local para um foco de intensa investigação farmacêutica internacional.
A sua casca e raízes contêm este composto, um di-hidroestilbeno que se revelou um poderoso inibidor da polimerização da tubulina, fundamental para a divisão celular. A investigação subsequente levou ao desenvolvimento de análogos sintéticos, como o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P), que se tornaram agentes de direcionamento vascular (VTAs) promissores no tratamento de tumores sólidos e carcinomas anaplásicos da tiroide.
Desenvolvimento do Pró-fármaco CA4P
Para superar as limitações farmacocinéticas do CA-4, foi desenvolvido o seu pró-fármaco solúvel em água, o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P), também conhecido como Fosbretabulina. O CA4P é inativo, mas é rapidamente convertido em CA-4 ativo por fosfatases presentes no plasma e, em maior concentração, no ambiente tumoral.
O CA4P não é apenas um agente antimitótico, mas também um potente Agente de Direcionamento Vascular (VTA). O seu mecanismo de ação principal é causar a disrupção seletiva da vasculatura tumoral, levando ao colapso dos vasos sanguíneos que alimentam o tumor. Este efeito resulta numa necrose tumoral rápida e seletiva, poupando os vasos sanguíneos normais.
Ensaios Clínicos e Aplicações
O CA4P tem sido objeto de vários ensaios clínicos de fase I e II, principalmente para o tratamento de tumores sólidos e carcinoma anaplásico da tiroide (CAT). Em estudos de fase II para CAT, o CA4P demonstrou resultados promissores em combinação com quimioterapia (paclitaxel e carboplatina), levando à sua designação como medicamento órfão pela FDA e pela EMA. A sua eficácia reside na capacidade de induzir a necrose central do tumor, tornando-o um excelente agente para terapias combinadas.
A investigação continua a explorar o seu potencial em outras áreas, como a oftalmologia (para o tratamento de neovascularização retiniana) e outras formas de cancro, consolidando o Combretum afrum como uma das fontes mais importantes de moléculas anticancerígenas da natureza.
Outras Atividades Biológicas
Embora o foco seja o CA-4, o género Combretum é rico em flavonoides, que demonstraram atividade antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana em estudos in vitro e in vivo com outras espécies. É razoável inferir que o combreto partilha estas propriedades, o que justificaria o seu uso tradicional como tónico e em banhos para dores. No entanto, a potência do CA-4 ofusca estas atividades, e o uso da planta para estas finalidades é desencorajado em favor de espécies mais seguras e melhor estudadas.
Curiosidades e Fatos Históricos do Combretum-afrum
A Confusão Botânica e a Descoberta
A história da Combretastatina A-4 está envolta numa ligeira confusão botânica. Embora a molécula tenha sido isolada pela primeira vez por George R. Pettit e a sua equipa na década de 1980, a partir de amostras recolhidas do que se pensava ser o Combretum caffrum, a literatura subsequente e as bases de dados botânicas sul-africanas (como a SANBI) reconhecem o Combretum afrum como a espécie nativa do Cabo Oriental que contém o composto.
Esta sobreposição de nomes e a proximidade taxonómica das espécies sublinham a importância da taxonomia rigorosa na bioprospeção. A descoberta da CA-4 foi um marco, pois representou uma nova classe de agentes antimitóticos, diferente dos alcaloides da vinca e dos taxanos, que também se ligam à tubulina.
O Nome e a Cultura Zulu
O nome popular isiZulu para a planta, umdubu, é partilhado com outras espécies de árvores, o que é comum na etnobotânica africana. O uso da casca da raiz como um amuleto ou talismã na cultura Zulu reflete uma crença no seu poder protetor ou, inversamente, na sua capacidade de causar dano a um inimigo. Este uso não medicinal, mas cultural e espiritual, demonstra a profunda integração da planta na vida e nas crenças das comunidades locais, para além das suas propriedades farmacológicas.
O Fruto Distintivo
O fruto do Combretum afrum é uma das suas características mais distintivas e visualmente atraentes. As suas quatro asas membranosas são uma adaptação para a dispersão pelo vento (anemocoria), permitindo que as sementes sejam transportadas para longe da planta-mãe. A mudança de cor de verde-limão para castanho-avermelhado no final do verão torna a árvore um espetáculo ornamental, valorizado em jardins e paisagismo na África do Sul. Esta característica botânica contrasta com a sua potência química, mostrando a dualidade da planta como beleza natural e fonte de um medicamento potente.
Química Única
Embora o seu uso tradicional se concentre em tónicos para o bem-estar geral e banhos para dores corporais, o verdadeiro valor do C. afrum reside na sua química única. A exploração detalhada da sua composição fitoquímica revela a presença de flavonoides e outros compostos fenólicos, que justificam as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias inferidas para o género. Contudo, é a combretastatina que domina o panorama farmacológico, sendo um testemunho do potencial inexplorado da flora africana.
A compreensão da sua biologia e química é crucial para o desenvolvimento de novos fitofármacos e para a validação dos seus usos etnobotânicos, sempre com a devida cautela e rigor científico. A pesquisa continua a desvendar o potencial terapêutico desta espécie, prometendo um futuro onde os produtos naturais desempenham um papel cada vez mais central na luta contra doenças complexas.
Perguntas Frequentes sobre o Combretum-afrum
Onde o Combretum Afrum Pode Ser Encontrado?
O Combretum afrum é uma espécie endémica da Província do Cabo Oriental, na África do Sul. É comumente encontrado ao longo de rios e em ambientes de savana, preferindo solos bem drenados.
Quais São os Principais Usos Tradicionais do Combretum Afrum?
Tradicionalmente, o Combretum afrum é usado como tônico geral, para alívio de dores corporais, tratamento de infecções bacterianas, doenças venéreas, dor abdominal, feridas, infertilidade, dores de parto, câncer e problemas oculares em diversas comunidades africanas.
O Combretum afrum Pode Ser Consumido Como Chá?
Não. Devido à presença da Combretastatina A-4, um composto com potente atividade citotóxica e vasoativa, o consumo interno de Combretum afrum como chá ou infusão é estritamente desaconselhado. A planta é uma fonte de uma molécula líder para o tratamento do cancro, e o seu uso não controlado pode ser perigoso. O seu uso tradicional limita-se a banhos tónicos externos.
O Combretum afrum Pode Ser Usado para Tratar Câncer?
Estudos científicos identificaram que o Combretum afrum contém combretastatinas, compostos com potente atividade anticancerígena. Contudo, o uso da planta para tratamento de câncer deve ser feito exclusivamente sob orientação e supervisão médica, devido à sua citotoxicidade e à necessidade de dosagens controladas.
O Que é a Combretastatina A-4?
A Combretastatina A-4 (CA-4) é um di-hidroestilbeno isolado do Combretum afrum (e C. caffrum). É um potente agente antimitótico que inibe a polimerização da tubulina, impedindo a divisão celular. O seu derivado, o fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P), é um Agente de Direcionamento Vascular (VTA) em ensaios clínicos para o tratamento de tumores sólidos, atuando ao colapsar os vasos sanguíneos que alimentam o tumor.
O Combretum afrum É Usado na Medicina Tradicional?
Sim, o Combretum afrum é usado na medicina tradicional sul-africana como um tónico geral para promover o bem-estar e em banhos para aliviar dores no corpo. A casca da raiz também tem usos culturais como amuleto. No entanto, estes usos são locais e não devem ser confundidos com o uso interno seguro de outras plantas medicinais.
O CA4P Já É Um Medicamento Aprovado?
O fosfato de Combretastatina A-4 (CA4P) ainda está em ensaios clínicos (Fase II) e não é um medicamento aprovado para uso comercial generalizado. No entanto, recebeu a designação de medicamento órfão para o tratamento do carcinoma anaplásico da tiroide, o que acelera o seu desenvolvimento e aprovação para esta condição rara e agressiva.
É Seguro Usar Combretum Afrum Durante a Gravidez?
Não há informações específicas sobre a segurança do Combretum afrum durante a gravidez. Dada a presença de compostos bioativos potentes, é fortemente recomendado que mulheres grávidas ou a amamentar evitem o uso da planta ou consultem um profissional de saúde antes de qualquer utilização.
O Combretum Afrum Possui Efeitos Colaterais Conhecidos?
Não foram encontrados efeitos colaterais específicos detalhados para o Combretum afrum nas pesquisas. No entanto, devido à presença de compostos potentes como as combretastatinas, é crucial usar a planta com cautela e sob supervisão médica para evitar possíveis reações adversas ou interações medicamentosas.
Quais São os Riscos de Usar o Combretum afrum?
O principal risco é a toxicidade sistémica se a planta for consumida internamente, devido à potência da Combretastatina A-4. O uso externo em banhos é considerado de baixo risco, mas deve ser evitado em caso de feridas abertas na pele. O manuseio da planta deve ser feito com cautela, e o seu uso medicinal deve ser limitado ao seu derivado farmacêutico em ambiente clínico.
Referências e Estudos Científicos
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